terça-feira, 9 de dezembro de 2008

90º. Aniversário do Armisticio



História
90º. Aniversário do Armistício
Os Portugueses na 1ª Guerra Mundial
(Homenagem aos caldenses caídos na 1ª. Guerra Mundial -França)

Por: Luís Manuel Tudella

No próximo dia 11 de Novembro, comemora-se por toda a Europa o 90º. Aniversário da assinatura do armistício, da 1ª. Guerra Mundial.
O armistício foi assinado numa carruagem pelas entidades envolvidas no conflito da 1ª. Guerra Mundial a 11-11-1918, na localidade de Compiège, a nordeste de Paris.
A 1ª.Grande Guerra, (1914-1918) foi a primeira do século XX, que teve como palco principal a Europa, e que pôs pela primeira vez em confronto o poder destrutivo das armas bélicas em escala massiva, que o homem ao longo do fim do século XIX e inicio do século XX, vinha desenvolvendo e aperfeiçoando.


Assinatura do Armistício

Foi sem dúvida o primeiro conflito bélico a nível planetário, pois por um lado lutaram incorporados na Tríplice Entente as Forças Aliadas de 24 países (Bélgica, Brasil, China, Costa Rica, Cuba, E.U.A., França, Grã-Bretanha, Grécia, Guatemala, Haiti, Honduras, Itália, Japão, Libéria, Montenegro, Nicarágua, Panamá, Portugal, Roménia, Rússia, S. Marinho, Sérvia e Sião); e por outro, as Potências Centrais, como (o Império Alemão, o Império Austro-Húngaro o Império Otomano e a Bulgária).
Afirmam uns, que o início deste conflito se deve ao assassinato na Sérvia, por um estudante, a 28 de Junho de 1914, do herdeiro ao trono Austro-Húngaro, Francisco Fernando e de sua mulher; outros recuam no tempo, e debruçam-se sobre as feridas não cicatrizadas de conflitos que tiveram o seu palco na Europa do século XIX, entre diversas nações; e ainda outros debruçam-se sobre as negociações encetadas pela Grã-Bretanha, ao longo de anos com a Alemanha, para a demover do seu expansionismo e predomínio da Europa, do Mundo e dos mares, o que foi totalmente rejeitado pela Alemanha, apesar da Grã-Bretanha colocar no tabuleiro algumas cedências e compensações, de entre outras, o Congo Belga e as nossas colónias de Angola e Moçambique, que faziam fronteira com possessões alemãs, sem o nosso prévio consentimento.
Certo é, que, após o assassinato de Francisco Fernando, foi este o pretexto considerado para o início do conflito, pensando-se que seria uma questão que se resolvia em três meses, o que não veio a suceder, prolongou-se por quatro longos penosos e duros anos, vindo a provocar a morte a mais de 8 milhões de seres humanos e mais de 20 milhões de feridos; muitos deles vindo a falecer mais tarde, após o conflito, devido a ferimentos recebidos, outros ficaram incapazes, vindo a falecer gradualmente fruto da evolução do envenenamento com a inalação de gases e muitos milhões ficaram estropiados; a destruição e desagregação de milhares de famílias; a destruição de aldeias, vilas e cidades, algumas desapareceram completamente do mapa; a perda irrecuperável de patrimónios históricos; etc… Após esta catástrofe, nada ficou como dantes; o desaparecimento de 3 impérios, (Alemão, Austro-Húngaro e Otomano), a criação de novos países, novas fronteiras foram traçadas, um enfraquecimento global da Europa, e uma nova potência mundial emergiu, os Estados Unidos da América.
Concorreu também para esta catástrofe o desenvolvimento do armamento em larga escala, com o aparecimento de novas armas no palco de guerra, como; as minas, os torpedos, os submarinos, as metralhadoras, os aviões, as bombas com barbatanas e dispositivo deflagrador na extremidade, os gases (cloro e mostarda), os tanques, a bicicleta substituta em larga escala dos solípedes que serviam a arma de cavalaria, a fotografia aérea, o telégrafo, e como se não bastasse, a evolução do armamento era confrangedor, pois cada vez, apareciam armas mais eficientes, de maior alcance, maior precisão, melhor manuseamento, tendo por fim maior capacidade de destruição; são exemplo disso, os aviões, que no inicio do conflito eram construídos em lona e madeira com duas e três asas sobrepostas, acabando no ano de 1918, por serem fabricados em metal com uma só asa transversal e motor central muito mais potente, melhor manuseamento, maior autonomia e maior velocidade; os tanques que no início do conflito, mais pareciam caixotes de ferro, muito pesados e de difícil manuseamento em terreno acidentado, por conseguinte, alvos fáceis; agora (1916), surgem-nos mais eficazes na passagem das trincheiras, com o sistema de lagartas na sua locomoção; o motor de explosão interna aplicado nos submarinos foi de um êxito enorme, vindo a causar enormes baixas aos aliados; a propaganda e a espionagem, que em muito auxiliaram ambas as partes nas suas acções, etc.
Seria fastidioso se continuasse a fazer descrição do que se passou e do que se já escreveu sobre este conflito, mas não quero deixar de salientar as batalhas mais significativas, que deram a uns e a outros avanços e recuos na progressão do terreno, ou mesmo, o estacionamento durante largos meses nas trincheiras ficando estas inalteradas com posições estremadas.
O palco de guerra englobava várias frentes (F. Ocidental, F. Oriental, Extremo Oriente, Balcãs, África Oriental e Ocidental, e Pacífico).
De seguida e por ordem cronológica, faz-se a descrição das batalhas mais significativas da Frente Ocidental, aquelas que mais nos interessa.
Frente Ocidental:
1)- Batalha das Fronteiras, de 3 a 26 de Agosto de 1914; 2)- Batalha das Ardenas, de 21 a 26 de Agosto; 3)- Batalha de Charleroi de 21 a 23 de Agosto; 4)- Batalha de Mons de 23 a 24 de Agosto; 5)- Batalha de Cateau de 25 a 29 de Agosto. Total de baixas 8.000; 6)- 1ª. Batalha do Marne de 6/09 a 9 de Setembro; 7)- 1ª. Batalha de Ypres de 8/10 a 22 de Novembro – baixas, 50.000 alemães e 24.000 franceses e belgas; 8)- 1ª. Batalha, das doze de Isonzo a 23-06-1915. No fim de 1915 as baixas italianas ascendiam a 250.000 mortos feridos e prisioneiros; 9)- 2ª. Batalha de Ypres, entrada em acção da arma química “gases”; 10)- Batalhas de Champagne – Fev. e Março – Setembro a Novembro de 1915; 11)- Batalha de Verdun – Fev. a Agosto de 1916. As baixas de ambos os lados cifraram-se em mais 500.000 mortos, feridos e prisioneiros; 12)- 1ª.Batalha do Somme – Junho a Novembro de 1916, (Entrada em acção dos primeiros tanques, o flagelo das trincheiras) - baixas alemãs 600.000, entre mortos, feridos e prisioneiros, e baixas por parte dos aliados, 194.451 franceses e 419.654 britânicos; 13)- Batalha de Messines a 6 e 7 de Junho de 1917- foram capturados 7.500 militares alemães; 14)- 3ª. Batalha de Ypres (Passachendaeie) de Julho a Novembro de 1917; 15)- Batalha de Caporetto de 19-8 a 12-9, as forças dos Impérios Centrais fizeram 275.000 prisioneiros; 16)- Batalha de Cambrai, em Outubro de 1917; 17)- 2ª. Batalha do Somme entre 21-03 a 04-04-1918; 18)- 2ª. Batalha do Marne, as perdas alemãs cifraram-se em 30.000 mortos e feridos, a captura de 800 bocas de fogo de artilharia – nesta batalha está incluída a batalha de La Lys; A partir daqui os aliados tomaram a iniciativa das operações até ao fim do conflito; 18)- Batalha de Amiens a 08-08-1918, as forças americanas em acção fizeram mais de 13.000 prisioneiros alemães e 466 bocas de fogo; do lado americano as baixas foram na ordem dos 7.000 homens.
Não posso deixar de salientar a Batalha Naval mais mortífera da história da Grande Guerra, que pôs frente a frente a frota britânica e a frota alemã, no mar do norte, em Maio de 1916 que compreendeu a totalidade de 260 navios; a “Batalha da Jutlândia”, que teve como resultado por parte dos britânicos a perda de 3 cruzadores de batalha, 3 cruzadores, 8 destroyers, totalizando 14 navios afundados, dos quais resultaram 6.097 mortes e 510 feridos; e da parte alemã, a perda de 1 couraçado, 1 cruzador de batalha, 5 destroyers, totalizando 11 navios afundados, dos quais resultaram 2.551 mortes e 507 feridos; ambos reclamaram vitória…

O Motivo da entrada de Portugal no conflito.

A razão da entrada de Portugal na 1ª.Guerra Mundial, segundo os historiadores, oscila entre a “Manutenção do Império”, o “Perigo Espanhol”, e a “Consolidação da República”. Todas têm a sua razão de ser, mas no meu entender, penso que a razão primordial se encontra na “Consolidação da República”, e na “Manutenção do Império”, pois no primeiro caso, a República tinha sido implantada há cerca de 4 anos, sendo alvo de constantes ataques de todas as forças políticas, e religiosas, querendo fazer desacreditá-la não só em Portugal como na Europa; e no segundo caso, a situação geográfica das nossas colónias de Angola e Moçambique, que confinavam com possessões alemãs, respectivamente, Angola a sul com a África Alemã do Sudoeste, e Moçambique a norte com a África Oriental Alemã, sendo alvos de ataques a partir de 1914.
Portugal, sendo velha aliada da Grã-Bretanha, e estando esta em guerra, incorporada na Tríplice Entente, entende que deve fazer parte do conflito, solicitando à sua aliada permissão para a entrada em palco. A Grã-Bretanha, invoca a sua não permissão com a razão de falta de transportes e meios. A posição portuguesa é de insistência, a qual, a muito custo e com prolongadas negociações, se veio a concretizar. A nossa aliada continua a informar de que não possui meios para fazer deslocar elementos do exército português, o que deixa ao nosso critério o transporte de homens e armamento. Só existe uma maneira de obter não só meios de transporte como víveres, e esse foi encontrado em 24-02-1916, quando destacamentos da Armada Portuguesa tomaram todos os navios alemães que se encontravam fundeados no estuário do Tejo e aprisionaram todos os outros que se encontravam atracados em portos Nacionais, na totalidade de cerca de 80 navios. Perante esta situação, a Alemanha declarou-nos guerra no dia 09-03-1916.
Sendo Portugal um Império, queria garantir no fim do conflito uma posição, que lhe desse a continuidade desse estatuto, pelo que se tornou numa força beligerante.
Mas antes deste episódio já Portugal estava em guerra com a Alemanha, mais concretamente com as suas colónias africanas.
Senão, vejamos pequeno resumo cronológico das hostilidades havidas, nas colónias de Angola e Moçambique:
.- Em Moçambique, Agosto de 1914, um incidente, na fronteira do Rovuma, um ataque alemão ao posto fronteiriço de Maziúa, resultou na morte do chefe do posto.
- Em Angola, Outubro, incidente de fronteira em Naulila, sul de Angola, resultou na morte de 3 alemães.
- A 30 de Outubro, o posto português de Cuangar situado na margem esquerda do rio Cubango, no sul de Angola, é atacado por alemães, originando a morte a dois oficiais, um sargento, cinco soldados europeus e treze africanos, com alguns civis
- A 18 de Dezembro,”Combate de Naulila” as forças alemãs atacam as portuguesas, obrigando-as a retirar, no Sul de Angola, em direcção a Humbe originando a morte a três oficiais e 66 sargentos e soldados.
- Em Junho de 1915, o governador de Moçambique informa de que se procedesse à reocupação de Quionga, no norte, ocupado pelos alemães em 1894.
- Em 17 de Junho de 1915, as tropas portuguesas tomam Humbe, no sul de Angola, sem encontrarem resistência.
Antes e depois da declaração de guerra a Portugal pela Alemanha, são enviadas para o sul de Angola e norte de Moçambique várias forças expedicionárias com o intuito de restabelecer as fronteiras no sul de Angola; e a norte, tomar Quionga., em Moçambique.

O palco de guerra em África e no que a nós diz respeito, vai desenrolar-se na colónia de Moçambique, nas margens do rio Rovuma, com ataques esporádicos de ambos os lados, travessias do rio de um lado e de outro, até que na quarta expedição, fruto de maior disciplina, melhor armamento, e muito melhores chefias, os alemães, comandados por Lettow-Vorbeck, em 21-11-1917, dirigem-se para a fronteira de Moçambique, e aí somos surpreendidos, infringindo-nos uma pesada derrota, provocando um massacre, onde faleceram cinco oficiais e 14 soldados europeus, duzentos e oito soldados africanos, ficando feridos para cima de 70 homens, e terem sido aprisionados 550 soldados, entre estes trinta e um oficiais.
- Em Dezembro de 1917, a uma coluna militar alemã comandada pelo general Wahle, que se dirigia para o interior de Moçambique é-lhe barrada a passagem pelas nossas forças.
- Em Julho de 1918 as tropas alemães vão de vitória em vitória chegando a escassos 40 km de Quelimane, provocando avultados prejuízos.
- Em Setembro as tropas alemãs abandonam Moçambique, atravessando o rio Rovuma.

Na Europa, após a declaração de guerra a Portugal, iniciam-se e desenvolvem-se acções para a sua prestação. Assim;
- Em Junho de 1916, o governo inglês convida Portugal a ser activo nas operações militares dos aliados.
- Em Julho é constituído o CEP (Corpo Expedicionário Português), em Tancos, sobre o comando do general Norton de Matos e seria composto por 30 mil homens.
- Em Dezembro há quem discorde da entrada de Portugal na guerra. Machado dos Santos tenta uma revolução malograda.
- Em Janeiro de 1917, embarca a bordo de 3 navios ingleses a 1ª. Brigado do CEP, comandada pelo general Gomes da Costa (mais tarde Presidente da República). O CEP é incorporado no BEF (British Expeditionary Force).
-Em Fevereiro, chegam a Brest as primeiras tropas, sendo colocadas na flandres francesa. O segundo contingente parte para França no fim do mês.

Embarque das nossas forças para França

- Em Abril, são colocadas as primeiras forças nas trincheiras, Portugal sofre a primeira baixa com a morte do soldado António Gonçalves Curado.
- Em Maio a 1ª.brigada de infantaria da 1ª.divisão do CEP, vai para a frente de batalha
.- Em Junho dá-se o primeiro ataque alemão às linhas portuguesas.
- Em Outubro o último navio de transporte britânico, dos sete iniciais é retirado do serviço do CEP, o que vem ocasionar o não complementar dos quadros do corpo, e o seu reforço não será contemplado.
- Em Novembro a 2ª.Divisão do CEP coloca-se no Sector Português da frente.
O ano de 1917, foi caracterizado pelas diversas acções de formação das nossas forças em França e Grã-Bretanha, recebendo treino na área de manuseamento de armas, deslocação em trincheiras, cursos de baionetas, cursos de gases etc., que em Portugal pouco ou nada tinham exercitado.
Os poucos meses de 1917, fizeram com que tivéssemos tido acentuadas baixas, tanto


Portugueses em acção

em mortes como em feridos, assim como algumas dezenas largas de prisioneiros. Alguns actos de coragem e bravura foram devidamente apreciados e louvados, levando à condecoração de diversos militares, promoções ao posto imediato, com sacrifícios enormes.
Era Comandante do CEP o general Tamagnini de Abreu.
De Janeiro a 8 de Abril de 1918 a nossa infantaria interveio por seis vezes, como se segue:

- 1º. Combate deu-se a 02-03-1918; as perdas portuguesas cifraram-se em 6 militares mortos, 72 feridos, sendo 45 gaseados. Os alemães tiveram 2 centenas de baixas, e fizeram 69 prisioneiros. Este combate desenrolou-se no sector de Chapigny.
- 2º. Combate deu-se a 07-03; as perdas portuguesas foram de 2 mortos e 15 feridos. Este combate deu-se no sector de Neuve Chapelle e Ferme du Bois.
- 3º. Combate deu-se a 09-03, foi efectuado um raid por tropas portuguesas, nas linhas alemães, provocando 20 feridos entre os nossos e a morte de 40 alemães e 5 prisioneiros.
- 4º. Combate, deu-se a 12-03; as perdas portuguesas foram de 13 militares mortos e 59 feridos; os alemães tiveram 2 mortos e fizeram 7 prisioneiros. Este combate foi nos sectores de Fauquissart e Chapigny.
- 5º. Combate, deu-se a 14-03; as perdas portuguesas cifraram-se em 14 militares mortos e 55 feridos. Este combate desenrolou-se nos sectores de Ferme du Bois e Neuve Chapelle.
- 6º. Combate deu a 04-04; as baixas portuguesas cifraram-se em 12 feridos e 11 desaparecidos.

A 2ª. Divisão do CEP, encontrava-se desde Novembro de 1917, no palco de guerra, sem ter tido qualquer descanso, ou mesmo ter recebido algum reforço, pois quando alguém adoecia ou era ferido, e eram bastantes, muito dificilmente eram substituídos, o que provocava revoltas e iras incontidas nas tropas entrincheiradas, diminuindo gradualmente os efectivos.
Também contribuía para uma quebra acentuada da moral, o modo de vida nas trincheiras, que se traduzia por imensas faltas de condições, como a salubridade, (inundações das trincheiras, roupas encharcadas, botas ensopadas, etc…), um Inverno e principio de primavera muito rigorosos com temperaturas bastante baixas, queda de neves, ventanias, chuvas, e inundações, terrenos alagados, etc., as rações eram bastante condicionadas e de baixas calorias, os fardamentos eram desadequadas à realidade da guerra, enfim uma imensidão de problemas, a que se juntavam as inevitáveis doenças adquiridas, como a tuberculose, bronquites agudas, pneumonias, além do efeito provocado pela emanação de gases altamente tóxicos e mortíferos.



Era assim que se encontravam as tropas portuguesas na linha da frente, totalmente desmoralizadas, enfraquecidas, esgotadas e sem verem o dia em que seriam rendidas por outras. Entretanto nas linhas de reserva as tropas revoltavam-se, amotinavam-se, sendo que algumas foram mesmo julgadas em tribunal de guerra.
Em Portugal, não embarca, nem viaja ninguém para França, e assistiam-se as deserções tanto de oficiais como de praças; e tanto assim era, que segue um resumo de uma carta enviada pelo meu avô a um tio-avô que se encontrava na linha da frente, dando-lhe conta do que por aqui se passava.
Parte da transcrição da carta:

“ foste um valente, mas acho que agora deves vir descansar e deixar que vão para ahi os outros que por aqui passeiam e que já ahi deveriam estar há muito tempo”.



Composição do Corpo Expedicionário Português

A)- 1ª. Divisão : Oficiais 638 : Praças : 18 743 : Solípedes : 5 338 : V. Hipo 945 : V. Auto 24
B)- 2ª. Divisão : Oficiais 638 : Praças : 18 743 : Solípedes : 5 338 : V. Hipo 945 : V. Auto 24
C)- Quartel General (C. E.)
Oficiais 431 : Praças : 8 488 : Solípedes : 4 119 : V. Hipo 424 : V. Auto 676
D)-Efect.da Base:Oficiais 394 : Praças : 5 497 : Solípedes : 964 : V.Hipo 15 : V. Auto 15
T o t a i s Oficiais 2 101 Praças 51 471 Solípedes 15 759 V Hipo 2 329 V.Auto 739

A 1ª. Divisão era comandada pelo General graduado Gomes da Costa, a 2 ª. Divisão pelo General Simas Machado, sendo o Comandante do Corpo Expedicionário Português o General Fernando Tamagnini.
Perante este palco, e com o desgaste das forças em causa, o inimigo ia-se apercebendo da situação, a qual lhe permitia apontar para um futuro ataque sobre determinada zona, e essa foi sem dúvida o sector português o escolhido, para ser lançada a última ofensiva dos alemães na Flandres entre 8 e 29 de Abril.



Os alemães deram a esta operação o nome de código de “Georgette”, dia da investida a 09-04-1918, para nós conhecido como a batalha de La Lys.
Seria fastidioso estar a relatar os acontecimentos de 9 de Abril, até porque tem sido alvo de elaborados estudos e não me compete aqui aquilatar do que correu mal ou menos bem neste fatal dia para as nossas tropas. No entanto é bom relembrar de que foram praticados alguns actos de heroísmo e bravura dignos dos mais altos louvores e condecorações, que nos chegaram por relato dos seus contentores, e outros que foram para a sepultura por quem os praticou, ficando enterrados naqueles malditos lamaçais.
Mas só para termos uma pequena ideia do palco das operações e do desenrolar do ataque na madrugada de 9 de Abril, segue pequena resenha:
As tropas portuguesas encontravam-se acantonadas na vasta região do médio Lys, uma planície húmida e barrenta, cortada por canais e drenos, que após chuvadas se transformava em enormes lamaçais, a qual constituía um corredor entre as colinas de Aras, e de Armentières, numa extensão variável de 12 a 18 Km.
As forças eram em tudo desproporcionadas; para se ter uma ideia do efectivo bélico alemão, tinham na frente do sector português 1.500 bocas de fogo, para a extensão de 12 Km., o que dava uma média de uma boca de fogo de 8 em 8 metros. A esta desproporção de forças deve-se em parte à assinatura de paz entre a Alemanha e a Rússia, a qual libertou da frente oriental 156 divisões, devidamente apetrechadas e retemperadas. As 8 divisões, com mais 4 de apoio e 7 de reserva, contra a reduzida 2ª.Divisão do CEP, ao centro, ladeada a norte pela 40ª Divisão e a sul pela 55ª.Divisão britânicas, davam bem a ideia desproporcionada das forças. (Mapa anexo – as diversas linhas, marcam as datas e os avanços alemães, de 9 a 29 de Abril).
As forças alemãs apercebendo-se da insegurança no sector português, pela madrugada do dia 9 de Abril, cerca das 4 e 15 minutos e debaixo de intenso nevoeiro, lançaram um forte ataque, que não pouparam qualquer comando da lª.linha. Foram neutralizadas logo no início da batalha todas as comunicações, o que veio a facilitar mais o avanço inimigo.
Este ataque sobre o sector português, saldou-se na perda de muitas vidas humanas, bens materiais, no recuo das forças aliadas, e de uma destabilização da frente até 29 de Abril.
Não era possível exigir mais àqueles que tendo passado um inverno e princípio de primavera nas trincheiras em condições deploráveis, se bateram ferozmente; casos houve, que unidades inteiras se bateram até ao último homem tendo havido actos de abnegada bravura e coragem.
A todos que por terras de França ou de África deram o melhor da sua juventude, se deve o maior respeito e consideração, mas em especial aqueles que não puderam juntar-se às suas famílias, ficando aí sepultados para sempre naqueles dantescos palcos de morte.


Total das tropas mobilizadas de 1914-1918


Oficiais Sargentos Praças P. Indig. Total

CEP-França 3.376 3.051 48.658 --- 55.083

CAPI-França 70 120 1.138 --- 1.328

Angola 387 403 a) 11.640 6.000 18.430

Moçambique 1.128 a) 19.295 10.278 30.701

T O T A L 4.961 3.574 80.731 16.278 105.542

a)- Inclui a classe de sargentos.

Forças Empenhadas/Baixas

Forças Mortos Feridos/Incapacitados

França 57.000 2.086 12.508

Angola 32.000 T. 810 683

Moçambique Metr. 4.811 1.593

T O T A L 89.000 7.707 14.784

Baixas do C.E.P. "Mortos"

Combate Gaseados Desastre Doença O. Causas Total

Oficiais 43 2 8 21 --- 74

Praças a) 1.267 68 113 508 56 2.012

T O T A L 1.310 70 121 529 56 2.086

a)- Inclui a classe de sargentos.

Feridos do C.E.P.

Oficiais 256

Praças a) 4.968

a)-Inclui a classe de sargentos.

Além dos 2.086 mortos, que o CEP sofreu, tem que se juntar o desaparecimento de 1.991 militares, o que perfaz a totalidade de 4.077, no norte de França.

Não há terra em Portugal, que não tenha tido um filho que pagou com sangue a sua presença, que não tenha chorado os seus mortos ou feridos, assim como algumas, que os perpetuaram com a edificação de monumentos alusivo a esta efeméride, que tão justa e merecida foi; outras nem sequer uma lápide apresentam ou num cemitério ou mesmo num edifício publico, o que se lamenta.

E porque estamos sobre a data do 90º.Aniversário da assinatura do armistício, é justo, fazer uma singela homenagem, recordando o nome dos naturais do concelho de Caldas da Rainha, que serviram a Pátria bem longe, e que por ironia do destino não tiveram a sorte de regressar.





RELAÇÃO DOS MILITARES CALDENSES MORTOS EM FRANÇA


1º.
FRANCISCO HENRIQUES DE PAIVA
2º. SARGENTO
- Filho de Joaquim Henriques de Paiva e de Gertrudes Manique, nasceu 29-08-1892, na Tornada.
- Estado civil, solteiro.
- Embarcou em Lisboa para França a 22-02-1917.
- Promovido a 2º. Sargento em 13-12-1917, pelo Chefe dos S. H.B., nos termos da alínea d) do artigo 13º. Da Lei nº. 778 de 21-08-1917. (quadro permanente).
- Frequentou o Curso de aperfeiçoamento Sanitário com 14 valores em 23-01-1918.
- Baixa ao H.S. nº. 8 em 12-11-1918.
- Faleceu no mesmo Hospital, vitimado por “Bronco – pneumonia Gripal”, em 17-11-1918.
- Foi sepultado no cemitério civil de Lillers, coval nº. 9.
2º.
JOÃO JACINTO DOS SANTOS
2º. SARGENTO
- Filho de Jacinto dos Santos e de Ana do Rosário, nasceu a 23-06-1894, em Santa Catarina.
- Estado civil, solteiro.
- Embarcou em Lisboa para França a 02-06-1917
-Promovido a 2º. Sargento enfermeiro em 28-02-1918, O.S. nº. 59 do Q. G.2 do mesmo dia (C. S. nº. 759).
- Baixa ao H. S. nº. 8 em 10-03-1919.
- Faleceu às 14 horas do 12-03-1919, no mesmo hospital, com uma ferida penetrante: Cavidade abdominal, perfurações intestinais, ferida do mesentério, do lado direito, e bronco – pneumonia. Congestão pulmonar direita.
- Foi sepultado no cemitério de Linghem, coval nº. 10.
3º.
JOÃO DO COUTO
SOLDADO
- Filho de Manuel do Couto e de Maria Ascenção, nasceu a 14-09-1895 no Carvalhal Benfeito.
- Estado civil, solteiro.
- Embarcou em Lisboa para França a 02-07-1917.
- Desembarcou em Brest em 17-07-1917.
- Faleceu em Laventie, por ter sido ferido em combate, a 13-12-1917.
- Foi sepultado no cemitério de Laventie, coval nº. 28.
4º.
JOSÉ MARQUES
SOLDADO
- Filho de pai incógnito e de Maria da Conceição, nasceu a 23-05-1892, em Alvorninha.
- Estado civil, solteiro.
- Embarcou em Lisboa para França a 19-08-1917.
- Faleceu na 1ª.linha, por ter sido ferido em combate, em 16-01-1918.
- Foi sepultado no cemitério de Laventie, coval nº. 34.
5º.
JOAQUIM CARDOSO
SOLDADO
- Filho de José Cardoso e de Ana Dionísia, nasceu a 08-04-1895, em Salir do Porto.
- Estado civil, solteiro.
- Embarcou em Lisboa para França a 02-07-1917.
- Baixa à ambulância nº.9 em 23-04-1918.
- Foi evacuado em 26-04-1918 para o H. B. 2.
- Faleceu a 06-05-1918, vitimado por “congestão pulmonar”.
- Foi sepultado no cemitério de Ambleteuse, coval nº. 17, caixão nº. 33.
6º.
JOÃO EGINO
SOLDADO
- Filho de João Egino e de Júlia dos Anjos, nasceu a 17-12-1894, em Santa Catarina.
- Estado civil, solteiro.
- Embarcou em Lisboa para França a 02-07-1917.
- Punido em 03-07-1918, pelo Comandante da 1ª. Secção, com 10 dias de detenção, por ter faltado ontem ao serviço de faxina para o H. B. 1 para o qual se achava nomeado.
- Baixa ao H. S. nº. 8, em 30-09-1918.
- Faleceu a 30-09-1918, sendo a causa da morte, ferimentos sofridos num desastre em serviço.
- Foi sepultado no cemitério de Herbelles, coval nº. 7.
7º.
JOÃO VICENTE
SOLDADO
- Filho de António Vicente e de Ana Maria, nasceu a 12-09-1895, em Chão da Parada, Tornada.
- Estado civil, solteiro.
- Embarcou em Lisboa para França a 25-07-1917.
- Por comunicação do Comité Internacional da Cruz Vermelha, sabe-se ter sido feito prisioneiro.
-Faleceu a 14-04-1918, em Kriegs Lazareto Farluvi, Teurcouing, vitimado por ferimentos recebidos em combate.
- Foi sepultado no cemitério de Lazareto, coval nº. 1.
8º.
JOÃO FERREIRA
SOLDADO
- Filho de Francisco Ferreira e de Maria dos Santos, nasceu a 10-10-1892 na Fanadia.
- Estado civil, solteiro.
- Embarcou em Lisboa para França a 21-08-1917.
- Desembarcou em França em 24-08-1917.
- Embarcou para Inglaterra em 11-09-1917, desembarcando a 12 do corrente.
- Embarcou para França em 03-03-1918.
- Baixa à ambulância nº.4 em 29-12-1918.
-Evacuado para o H.S. nº.8 em 18-02-1919.
- Tem direito a usar a medalha Comemorativa de Campanha (Relação do 6ª. Batalhão de Artilharia a pé de 20-02-1919).
- Evacuado para o H. B. 1 em 25-02-1919.
- Julgado incapaz de todo o serviço não podendo angariar os meios de subsistência, em sessão de 03-03-1919. (O.S. nº. 73 do Q. G. B. de 14-03-1919).
- Faleceu no H. B. 1 em 24-04-1919, vitimado por “ Pneumonia”.
- Foi sepultado no cemitério de Ambleteuse, coval nº. 77, caixão nº. 146.
9º.
JOSÉ FARIA
SOLDADO
- Filho de pai incógnito e de Angelina Cândida, nasceu a 28-02-1895, em Chão da Parada, Tornada.
- Estado civil, solteiro.
- Embarcou em Lisboa para França a 02-07-1917.
- Desaparecido em combate no dia 09-04-1918.
- Faleceu na Alemanha em 15-04-1918.


Cemitério inglês com militares portugueses


O Tratado de Paz foi assinado a 28-06-1919 no Palácio de Versalhes, na sala dos
Espelhos.



Postal alusivo ao fim do conflito com o arauto anunciando a nova.

Julgo ser oportuno a inserção de um documento e respectiva transcrição, que foi enviado da frente de batalha na Flandres por um tio avô para uma das suas irmãs, em que dá a conhecer o seu estado de espírito, e mais relevante, o pensamento nele expresso, lamentando profundamente o que se tem passado com esta guerra., e o que o futuro nos reservará. Este postal não poderia ser tão actual e tão anunciador de uma outra futura catástrofe, que se veio a desenrolar no mesmo palco, passados que foram 22 anos da primeira, tendo como principais contendores os mesmos da anterior.
Postal que foi enviado dentro de um envelope conjuntamente com outros num total de 10, em 03-11-1917.





Transcrição
“….. a ambição sempre existiu e sempre existirá enquanto houver imperadores; nunca por nunca ser, a humanidade andará tranquila.
Actualmente está acontecendo o que se deu no tempo de Nero, imperador dos romanos; mas tenho como certo que, o que lhe aconteceu, acontecerá amanhã ao ambicioso imperador inimigo. No entanto ficará quem o substitua infelizmente….”.

E infelizmente veio a suceder, vindo a recair a responsabilidade em Adolfo Hitler, que, esteve presente no primeiro conflito, integrando as forças Austríacas, na frente ocidental, com o posto de cabo, tendo sido ferido em combate numa mão da primeira vez, e da segunda, teve mais sorte, pois serviu-lhe de escudo um amontoado de corpos que jaziam à sua frente, saindo ileso nesse ataque.

F I M

Fontes consultadas:
1-Documentação avulsa do Arquivo H. Militar:
2- Fotos do Arquivo H. Militar.
3- Livro Exército Português – Imagens da I Guerra Mundial:
4- Postais da colecção particular do autor.


Novembro de 2008