quarta-feira, 14 de outubro de 2009



Artigo 10
Centenário da Implantação da República
(1910-2010)
Numária
O Papel-moeda
1910 – 2010
Por: Luís Manuel Tudella



DEZ ESCUDOS


A primeira nota emitida pelo Banco de Portugal, com o valor de Dez Escudos, tem como ilustração na sua frente a figura de Afonso de Albuquerque, o mais ilustre e temido homem de guerra português do século XVI, ficando conhecido como “O Grande”, “César do Oriente”, “Leão dos Mares” e “O Terrível”; e um quadro representativo da conquista da Índia. O verso da nota tem como ilustração a gravura de uma cabeça simbolizando a República e no grupo central uma outra gravura simbolizando os rios Tejo e Douro.
Características da nota: Os desenhos que se apresentam na frente da nota, foram fornecidos pelo Banco de Portugal, têm uma cor azul e foram estampados por processo calcográfico. O fundo em guilhoché é impresso em íris verde claro ao centro, esbatendo em sépia claro para os lados. O verso também com estampagem calcográfica, a sépia, com trabalho geométrico, sobre fundo de técnica tipográfica impresso em íris, sépia claro ao centro, esbatendo em amarelo escuro para os lados.
A firma estampadora foi a Bradbury, Wilkinson & Cº. Ltd. de Londres. O papel foi fabricado por Perrigot-Masure, Papeteries d’ Arches (Vosges), tendo como marca de água, à direita, e visto à transparência pela frente, uma cabeça com capacete, de perfil para a esquerda.
A dimensão da nota é de 153x95 mm. Foram emitidas 9 060 000 notas, com datas de 21 de Outubro de 1917 e 7 de Julho de 1920. A primeira emissão, foi efectuada a 30 de Julho de 1920 e a última a 24 de Dezembro de 1926. Foram retiradas de circulação em 24 de Junho de 1929.
Mas quem foi este marinheiro, soldado, escritor (Cartas ao rei), estadista e prestigioso diplomata?
Afonso de Albuquerque, nasceu em Alhandra no ano de 1462, segundo filho de Gonçalo de Albuquerque, senhor da Vila Verde dos Francos, e de D. Leonor de Meneses, esta filha do conde da Atouguia, Álvaro Gonçalves de Ataíde, sendo educado na corte de D. Afonso V. O seu pai desempenhava um importante cargo na corte, sendo descendente por via natural da família real portuguesa, por conseguinte era um fidalgo da mais nobre linhagem. A sua instrução foi direccionada para as matemáticas e para o latim clássico.
Adquiriu experiência militar durante os 10 anos que serviu no norte de África:
- No ano de 1471 esteve presente nas conquistas de Arzila e Tânger: no seu regresso foi nomeado estribeiro - mor do príncipe D. João II.
- No ano de 1476, acompanhou o rei D. João II, nas guerras contra Castela, tendo participado na batalha de Toro.
- Em 1480 fez parte integrante da esquadra enviada em socorro de D. Fernando II, rei de Aragão, Sícilia e Nápoles, para combater e reprimir o furor turco de avançar sobre a península itálica, culminando com a vitória cristã no ano de 1481.
- Em 1489 esteve na expedição para defender a fortaleza da Graciosa.
- No ano de 1490 fez parte da guarda de D. João II, tendo regressado a Arzila, pelo ano de 1495.
Todas estas expedições granjearam-lhe prestígio, experiências, técnicas de guerra e de marinhar, conhecimentos e relações com outro tipo de gente, os quais foram o seu sustentáculo para a obtenção dos seus gloriosos feitos para o reino de Portugal.
- Em Abril 1503, Afonso de Albuquerque parte para a Índia, com um parente, tendo cada um no seu comando três naus. Participam em diversas batalhas, obtendo vitórias sobre vitórias, as quais garantiram a segurança e continuação no trono ao rei de Cochim. Obtiveram como paga do auxílio prestado a permissão de construir uma fortaleza em Cochim, sendo esta, considerado o marco fundamental para o inicio da expansão do Império no Oriente.
- Em Julho de 1504, regressa ao reino “cheio de glórias e não tanto de despojos”, onde foi recebido pelo rei D. Manuel I. Nos dois anos que se seguem, são feitos relatos permonorarizados de toda a sua façanha e glória alcançada pelos mares além África.
- No ano de 1506 o rei D. Manuel I, incorpora-o numa armada, dando-lhe o comando de esquadra composta por cinco naus, chefiada por Tristão da Cunha e composta por 16 naus com destino à Índia e com a missão secreta de substituir o vice-rei Francisco de Almeida, após términos do seu mandato, daí a dois anos.
- No ano seguinte, em 1507, e após diversos ataques bem sucedidos a cidades árabes da costa oriental, Afonso de Albuquerque, separa-se da armada, levando consigo uma frota de sete naus e quinhentos homens, rumo a Ormuz, no Golfo Pérsico, centro nevrálgico do comércio do oriente. Nesse trajecto conquistou as cidades de Curiate, Mascate e Corfacão, submetendo-as ao seu domínio. No último quadrimestre do ano, Setembro do mesmo ano, chega a Ormuz, tomando posse da ilha, onde iniciou a construção do forte de Nossa Senhora da Vitória. Entretanto com a deserção de oficiais e demais elementos da armada não conseguiu manter a posição, abandonando-a, no ano de 1508, regressando com outra determinação no ano de 1515.
- Em finais do ano de 1508, com o reforço da sua esquadra, chega a Cochim, na costa de Malabar, onde revelou para o que vinha, mostrando as credenciais do rei D. Manuel I, que o nomeia Governador da Índia em substituição do Vice-Rei D. Francisco de Almeida. Este estava rodeado dos oficiais e demais guarnição que tinham desertado de Ormuz, recusou-se a reconhecer as credenciais, dando ordem de prisão, a qual foi acatada por Afonso de Albuquerque, ficando este a aguardar novas indicações do reino.
- Em Fevereiro de 1509, Francisco de Almeida, ainda tomou parte da batalha de Diu, como vingança da morte do seu filho Lourenço de Almeida em circunstâncias trágicas e dramáticas. Esta vitória foi determinante para assegurar o domínio do Índico, durante mais de cem anos. Em finais do ano de 1509, D. Manuel enviara uma numerosa armada para defesa dos seus direitos, sendo chefiada pelo Marechal D. Fernando Coutinho, o mais alto dignitário do reino que alguma vez se tinha deslocado ao Índico. Após a partida de D. Francisco de Almeida, Francisco de Albuquerque assume a governação do estado da Índia com toda a energia e determinação, como segundo Governador até à sua morte.
- No ano de 1510, tomou Goa ao turco Hidalcão.
- Em 1511 conquista Malaca, abrindo aos portugueses o acesso às especiarias das ilhas Molucas e ao comércio com a China.
- No ano de 1513 partiu para o estreito de Bab-el-Mandebe, tentando tomar Áden, sem obter o êxito pretendido.
- A partir do ano de 1514, dedica-se mais à administração e diplomacia, concluindo a paz com Calecute, recebendo embaixadas reais indianas, consolida a posse de Goa e seu embelezamento, onde fez jus ao matrimónio entre portugueses e mulheres indianas, procurando criar uma raça luso - indiana.
- No ano de 1515 com a construção da fortaleza de Ormuz, concluiu o seu plano de domínio de pontos nevrálgicos, que permitiram o controlo marítimo e o monopólio comercial da Índia.
O seu prestígio atingira o auge, sendo alvo de admiração e respeito por todo o mundo ocidental de então, sendo “Chamado o Grande pelas heróicas façanhas com que encheu de admiração a Europa e de pasmo e terror a Ásia”.
Como em tudo na vida a inveja, a calúnia, as intrigas e demais defeitos da sociedade, determinaram o fim doloroso deste notável Senhor do XV, onde os seus inimigos na corte em Portugal influenciavam negativamente a postura do rei D. Manuel I contra ele. Talvez a sua conduta por vezes imprudente e tirânica, tivesse servido as intenções dos seus maiores inimigos.
- Em 16 de Dezembro de 1515, após o regresso de Ormuz, à entrada do porto de Goa, cruzou-se com o navio vindo de Portugal que trazia a notícia da sua substituição pelo seu inimigo principal Lopo Soares de Albergaria. O golpe foi rude demais, vindo a falecer no mar com um profundo desgosto. Antes de falecer escreve uma carta ao rei, onde lhe é atribuída a seguinte frase de “Mal com el-rei por amor dos homens, mal com os homens por amor de el-rei”.
O seu corpo jaz em local desconhecido, talvez em Goa, na Índia. Segundo uma versão foi amortalhado com o manto da Ordem militar de Santiago, de que era comendador, e sepultado na igreja de Nossa Senhora da Serra em Goa, que edificara em agradecimento do sucesso da conquista de Malaca. Passados que foram mais de cinquenta anos, foi trasladado para o convento de Nossa Senhora da Graça dos Religiosos Eremitas de Santo Agostinho, no ano de 1566 com toda a pompa e demais honrarias.
Deixou um descendente de nome Braz, mais tarde mudou de nome para Albuquerque. Foi capitão de um navio que conduziu a infanta D. Beatriz quando foi casar com o duque de Sabóia. Ligou-se pelo matrimónio a uma das mais ilustres famílias da Corte, D. Maria de Noronha, filha de D. António de Noronha, 1ºconde Linhares.
FIM

-Obra consultada O papel-moeda em Portugal – “Banco de Portugal”. Trechos avulsos.
Óbidos, 15 de Setembro de 2009.